quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ser ou não ser: um discurso atemporal

SER OU NÃO SER: UM DISCURSO ATEMPORAL

publicado na Revista nº 32 do GEL - Grupo de Estudos Linguísticos

Rosângela Manhas MANTOLVANI – (UNESP- Assis)

Sandra Aparecida FERREIRA – (UNESP – Assis)



ABSTRACT:- The speech of reflection in Hamlet shows in its construction a series de speech elements that brings to its surface the context of its epoch; the Bible, the fables and the philosophic arguments of the greeks sophists and the ideas of Socrates.



KEYWORDS - formações discursivas; intertextualidade; interdiscurso; discurso.



A partir de um corpus da obra Hamlet, .

Ser ou não ser, eis a questão (1), Que é mais nobre para o espírito. (2)


Sofrer os dados e setas de um ultrajante fado.(3) Ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo? (4)


Morrer... dormir, nada mais. (5)


E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração (6);
Os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne (7);
Que fim poderia ser mais devotadamente desejado? (8)





Morrer. . . dormir! Dormir! . . . Talvez sonhar! (9);
Sim, eis aí a dificuldade! (10);
Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobreviver durante o sono da morte. (11)




quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. (12)

Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa! (13)



Porque, senão, quem suportaria os ultrajes e desdém do tempo (14),
a injúria do opressor (15),
a afronta do soberbo (16),
as angústias do amor desprezado (17), a morosidade da lei (18),
as insolências do poder (19),
as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno (20)


quando ele próprio pudesse encontrar quietude com um simples estilete? (21)

Quem gostaria de suportar tão duras cargas (22), Gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa (23), Se não fosse o temor de alguma coisa depois da morte.(24)



região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou. (25)


confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar(26),
ao invés de nos atirarmos a outros que desconhecemos? (27)
E é assim que a consciência nos transforma em covardes (28)



e é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções se estiola na pálida sombra do pensamento, (29),
e é assim que as empresas de maior alento e importância (30) ,
com tais reflexões desviam seu curso e deixam de ter o nome de ação (31)






A justiça que busca o príncipe Hamlet pode estar relacionada à justiça socrática. Afirma Platão: Sócrates prestava primeiro obediência aos ditames de sua própria consciência. (id. ibid. p.23). Hamlet assim também o faz.





2. RESUMO:

O discurso de Hamlet sobre o ser ou não ser remete às discussões dos sofistas gregos e da filosofia socrática e veicula em seu discurso as questões da existência ou não de determinadas realidades, materiais ou abstrações. As FD do Classicismo grego são atualizadas e adaptadas ao contexto da produção da obra. Estabelecem uma relação interdiscursiva com esta tragédia, viabilizando outras FDs filosóficas, já que Hamlet assume a posição de filósofo.