Da problemática do estudo do objeto da Literatura Infantil às
produções em hipermídia: caminhos da literatura infanto-juvenil
Profa. Dra. Rosangela
M. Mantolvani
Segundo Afrânio Coutinho, o folclore tem sido a
grande matriz do gênero não só pelo fabuloso, mas pelo trato dos assuntos.
Nas fábulas, os animais surgem como protagonistas,
geralmente, lembrando ao ser humano, lembrando a ele a sua origem no reino
animal. As características do animal, geralmente possuem um elo de ligação com
os sentimentos e valores que se pretende discutir na fábula, de maneira que
tanto a vertente do significante quanto os significados mais profundos sejam
compatíveis com os valores que são postos em discussão.
Geralmente, a fábula
busca a discussão em torno dos costumes de uma sociedade, pretendendo uma
reflexão acerca da moralidade e da ética de certas práticas. Seu fim é
divertir, produzindo a reflexão sobre certos comportamentos sociais pouco
éticos ou prejudiciais à sociedade, bem assim como discutir a validade de
certas práticas arraigadas na sociedade contemporânea ou na de todos os tempos.
Após as tradução de Esopo, escritor da Grécia
antiga, cuja vida se encontra envolvida em lendas até sobre a sua própria
existência, as fábulas passam a ser conhecidas e apreciadas por meio da literatura
em diferentes sociedades.
Veja no portal Domínio público uma das
adaptações disponíveis das fábulas de Esopo,[1]
cujo enredo é preservado, porém a trama sofre adaptações e conformações à
linguagem atual.
Além desta adaptação,
muitas outras encontram-se à disposição em forma de livros de diferentes tipos,
nas livrarias e, principalmente, em portais de livrarias on-line, a exemplo da
Livraria Saraiva, que disponibiliza cerca de doze títulos em que figuram as
fábulas de Esopo.
São curtas e divertidas histórias de um suposto escravo grego, nas quais os animais predominam quase sempre como protagonistas, trazendo reflexões sobre comportamento e costumes.
[1] ( A.José C.Coelho com Adaptação: Joseph Shafan. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000378.pdf)
Como indicado na
própria Sinopse do Livro, o autor
Esopo não tem uma biografia objetiva, pois há muitas especulações em torno de
sua existência. Alguns dados, porém, parecem ser reais, como o fato de que
teria sido escravo e vivido na Grécia,
por volta de 662 a. C. Seu local de nascimento, porém, permanece incerto, pois
aparece em lugares diferentes nos escritos de época que lhe fazem referências.
Os estudos de Afrânio Coutinho (1971, p.
185) nos indicam que, em 1180, ou seja, no século XII, a poetisa Marie de
France traduziu o Romulus anglo-latim,
sob o título de Isopet, com cento e
trinta e sete fábulas da língua
anglo-saxônica, atribuídas hipoteticamente ao rei Alberto, vertida em uma
coletânea latina em que um certo Romulus
imperator pretendia traduzir em latim, por Tibério, seu filho, as fábulas
gregas de Esopo, que não é senão uma coleção de fábulas de Fedro postas em
prosa na época da extrema decadência. Ou seja, da coleção anglo-saxônica
derivou a tradução latina.
Assim, no século XII,
foram publicados em versos os cinco
primeiros livros de Romulus,
publicados por Esopus.
No século XIII, apareceu em verso o Isopet de Lião, e no XIV, o Isopet I, de Paris. De outra versão latina surgiram o Isopet de Chartres e o Isopet II, de Paris. Todos esses textos mantinham consigo o
sentido moralizante, sendo tributários dos modelos latinos.
Nos séculos XV e XVI,
surgem vários escritores de fábulas, como Giles Corrozet, Guillaume Haudent,
Guillaume Gerérold, Pierre Boisset, tanto na França como em outros cantos da
Europa, com destaque para La Fontaine.
No século XII, o Roman de Renart (Romance de Renart), também conhecido como “epopéia animal”,
consistia de uma coletânea de vinte e sete partes - composta por poemas – uma “ilíada bárbara”,
cujos personagens são animais. Diferente
das fábulas de Esopo, estes animais possuem uma máscara pessoal, tanto que a golpelha
se chamava Renart – nome que denominou a raposa. A ação se move entre este e
ainda o rei leão Noble, o lobo Isengrin, o galo Chanteclair, o gato Tibet, o
urso Brun, o burro Beaudoin, entre outras personagens que transitam pelo
romance. Nas disputas, vence sempre a
astúcia da raposa contra a ferocidade ingênua do lobo. (COUTINHO, 1971, p.
185-6)
À medida que iam
sendo compiladas (reescritas), perdiam o tom folclórico e ganhavam estilo
literário, porém as personagens permaneciam as mesmas. Outros livros no estilo
do Roman de Renart são publicados pela mesma época, enquanto na Espanha, o Libro de les Besties, de Remon Lull
recorda o renart francês.
Portugal traduz as Fábulas de Esopo no
século XIV, cujo título é Livro de Esopo ou
Esopete, de autor anônimo, um
manuscrito encontrado por Leite de Vasconcelos na Biblioteca Palatina de Viena,
publicado pelo pesquisador em 1906. Na Espanha, havia o Fabulário, de Sebastião Ney, um conjunto de fábulas reunidas.
Quem
não gosta de uma boa história? Não é à toa que o costume de sentar juntinho e
se deixar levar pela voz de um contador faz parte da cultura de todos os povos.
Assim são os "recontos" que Ruth Rocha apresenta nesta série: um
verdadeiro tesouro da tradição popular de várias partes do mundo. São histórias
saborosas e bem contadas, que divertem... [Leia+]
Disponível em:
Além da Companhia das
Letrinhas, outras editoras, como a Salamandra, Ática, L&PM, Companhia das
Letras, Moderna, Martin Claret, Ciranda Cultural, Escala Educacional, entre
outras, continuam publicando versões atualizadas das fábulas de Esopo, das
quais existem um sem-número de adaptações. Entre os autores, nomes
reconhecidamente destacados, como Ruth Rocha, que aparece como autora, ao reler
versões das fábulas de Esopo e La Fontaine.
Mas foi La Fontaine,
na França, quem deu às Fábulas de Esopo certa grandeza,
configurando-as como um gênero literário. Usando um cenário repleto de
elementos da realidade, com números de ritmos e versos procurou despertar e
tornar mais vivas as fábulas para crianças. Assim, em La Fontaine, a ternura
pelos animais e a moralidade apenas insinuada se encontram evidenciadas, superando
o estilo seco e geográfico das narrativas de outros fabulistas. Segundo Coutinho, citando René Doumic, as
fábulas de Esopo “eram demonstrações quase geométricas da verdade moral”,
enquanto as de Fedro eram secas e isenta de detalhes.
As Fábulas
de La Fontaine inovam pelo excesso de humanidade, por isso é considerado o
precursor da Literatura Infantil no Ocidente. Suas fábulas continuam sendo
reescritas e adaptadas, publicadas até hoje para o público infantil que muito
aprecia o enredo de suas narrativas.
In:http://www.livrariasaraiva.com.br
COLEÇÃO LA FONTAINE ONTEM E HOJE
Videau, Valerie; Beaupère, Paul / Escala Educacional
(1978096) Previsão de Entrega: Até 2 dias úteis para a Grande São Paulo1.
In:http://www.livrariasaraiva.com.br
Outras Editoras, além da Escala Educacional, como a Nacional, a Maltese, e a Leitura, entre outras, continuam publicando as fábulas de La Fontaine, cujos escritores se apresentam como autores, adaptadores, organizadores, etc. Geralmente, aparecem em pequenas coleções, reunindo mais de uma fábula e com uma linguagem adequada às crianças.
É preciso lembrar sempre que os originais de La Fontaine foram produzidos em versos. Portanto, as adaptações em prosa já representam profundas alterações na estrutura de organização dessas fábulas.
Seria muito difícil enumerar a quantidade de escritores que já adaptaram as fábulas de La Fontaine pelo mundo afora.