LITERATURA INFANTO-JUVENIL
Da problemática do estudo do objeto da Literatura Infantil às
produções em hipermídia: caminhos da literatura infanto-juvenil
Profa. Dra. Rosangela
M. Mantolvani
A Literatura
Infantojuvenil pode ser considerada como um gênero, no interior dos quais se
configuram diferentes modos de realização e, ainda, seu conteúdo e forma
específicas manifestam-se no interior de outros gêneros: fábulas, contos,
romances, poemas, etc. todos produzidos no interior de uma estética e visão de
mundo de jovens e crianças.
Sabe-se que, embora muitas produções
importantes desse gênero tenham se originado na oralidade, é a construção
estética desses enredos e formas específicas em prosa ou verso que lhes determina a pertença ou não a esse tipo de literatura. Mas nem sempre foi
assim.
Uma
das questões que sempre se colocou como problemática nos estudos de
Literatura infantojuvenil está relacionada à delimitação de seu objeto de
estudo específico. Então, algumas perguntas que implicam em inúmeras respostas nos
revelam o quão problemático tem sido esse “recorte” do objeto. Tanto que nos
questionamos com Afrânio Coutinho e outros teóricos se a Literatura infantojuvenil deve abordar: "O
livro escrito para crianças e jovens? Os livros cujas personagens são
crianças e jovens? Ou, todos os livros que as crianças e jovens elegem
como suas leituras prediletas?"
É
importante compreender que certa Literatura antiga que não foi produzida
especificamente para crianças ou jovens tem sido preferida por estes há muito tempo, a exemplo das Fábulas de La Fontaine, ou livros como as Viagens de Gulliver,
de Swift, ou ainda As aventuras de Telêmaco,
de Fénelon.
Segundo Afrânio Coutinho (1971, p. 183),
a literatura infantil deve ser enfocada na sua realidade, nos seus valores, nas
suas expressões, como um ramo da literatura e não como capítulo de pedagogia ou
até de didática.
Mas não significa que os reflexos da literatura infantil na pedagogia ou na didática não possam ser enfatizados e considerados, uma vez que são, tantas vezes, fundamentais na formação dos valores dos nossos pequenos.
Mas não significa que os reflexos da literatura infantil na pedagogia ou na didática não possam ser enfatizados e considerados, uma vez que são, tantas vezes, fundamentais na formação dos valores dos nossos pequenos.
A Literatura Infantil, necessariamente,
deve ser estudada em função de seu leitor, pois ela existe exatamente para
atender a esse público, divertindo, que é a sua função primeira.
A Literatura Infantil é, claro,
funcional. Primeiramente, sua função é divertir e, se possível, educar e favorecer
o desenvolvimento cognitivo, permitindo o acesso a conhecimentos e habilidades
que facilitem a compreensão das emoções e da construção de valores saudáveis na vida das crianças e jovens em seu período de formação.
Segundo
Afrânio Coutinho, o fim da Literatura Infantil é por essência desinteressada,
no sentido do ensino sistemático, embora possa ser educativa e instrutiva. Tem
como objetivo:
“emocionar artisticamente a criança, pelo sublime, pelo cômico, pelo patético, pelo trágico, pelo pitoresco ou pela aventura e, ao mesmo tempo, despertar-lhe a imaginação e aprimorar-lhe a sensibilidade”. (COUTINHO, 1971, p. 183).
“emocionar artisticamente a criança, pelo sublime, pelo cômico, pelo patético, pelo trágico, pelo pitoresco ou pela aventura e, ao mesmo tempo, despertar-lhe a imaginação e aprimorar-lhe a sensibilidade”. (COUTINHO, 1971, p. 183).
Visto como deleite para a criança, o
livro infantil pode germinar o amor pela leitura e despertar curiosidade pelo
mundo circundante, através do universo das histórias infantis e seus desfechos
tantas vezes fascinantes.
Em 1956, Cecília Meireles, em seu
Relatório da Comissão de Literatura Infantil, publicado no Diário Oficial de
Junho daquele ano, em parceria com Lúcia Benedetti, já buscava apontar o que
seria a Literatura Infantil, apontando como seus principais objetos:
a) Os livros escritos para a infância
(didáticos, recreativos e morais);
b) A contribuição folclórica (canções de
roda, brinquedos e parlendas, contos, lendas, etc.)
c) Os livros para adultos passados para o
domínio infantil (A. Dumas, F. Cooper, Dickens, M. Reid) e as grandes obras da
literatura universal. [1]
As grandes fontes da Literatura Infanto-Juvenil são
universais, a exemplo do folclore de diferentes culturas, dos contos de
diversos lugares do mundo, das fábulas de diferentes origens culturais, dos
apólogos, das lendas, dos contos populares urbanos, entre outras fontes para as
crianças. Entre os jovens, destaca-se a preferência pela literatura de
aventuras, a ficção científica, biografia de personalidades extravagantes do
mundo pop ou do esporte, ficções românticas em que aparecem seres
sobrenaturais, além sagas de heróis e bandidos.
No entanto, não é o enredo a característica fundamental para
atrair a atenção dos jovens leitores, mas a forma como se organiza esse enredo.
Ou seja, o estilo empregado pelo escritor que fará com que leitor sinta-se
atraído ou não pelo conteúdo que se deslinda nas páginas de um livro de
literatura infanto-juvenil.
Segundo Afrânio Coutinho, o folclore tem sido a grande
matriz do gênero não só pelo fabuloso, mas pelo trato dos assuntos.
Nas fábulas, os animais surgem como protagonistas,
geralmente, lembrando ao ser humano, lembrando a ele a sua origem no reino
animal. As características do animal, geralmente possuem um elo de ligação com
os sentimentos e valores que se pretende discutir na fábula, de maneira que
tanto a vertente do significante quanto os significados mais profundos sejam
compatíveis com os valores que são postos em discussão.
Geralmente, a fábula busca a discussão
em torno dos costumes de uma sociedade, pretendendo uma reflexão acerca da
moralidade e da ética de certas práticas. Seu fim é divertir, produzindo a
reflexão sobre certos comportamentos sociais pouco éticos ou prejudiciais à
sociedade, bem assim como discutir a validade de certas práticas arraigadas na
sociedade contemporânea ou na de todos os tempos.
Após
as tradução de Esopo, escritor da Grécia antiga, cuja vida se encontra
envolvida em lendas até sobre a sua própria existência, as fábulas passam a ser
conhecidas e apreciadas por meio da literatura em diferentes sociedades.
Veja no portal Domínio público uma das adaptações
disponíveis das fábulas de Esopo,[2]
cujo enredo é preservado, porém a trama sofre adaptações e conformações à
linguagem atual.
Além desta adaptação, muitas outras encontram-se à
disposição em forma de livros de diferentes tipos, nas livrarias e,
principalmente, em portais de livrarias on-line, a exemplo da Livraria Saraiva,
que disponibiliza cerca de doze títulos em que figuram as fábulas de Esopo.
São curtas e divertidas
histórias de um suposto escravo grego, nas quais os animais predominam quase
sempre como protagonistas, trazendo reflexões sobre comportamento e costumes.
Como indicado na própria Sinopse do Livro, o autor Esopo não tem
uma biografia objetiva, pois há muitas especulações em torno de sua existência.
Alguns dados, porém, parecem ser reais, como o fato de que teria sido escravo e
vivido na Grécia, por volta de 662 a. C.
Seu local de nascimento, porém, permanece incerto, pois aparece em lugares
diferentes nos escritos de época que lhe fazem referências.
Os
estudos de Afrânio Coutinho (1971, p. 185) nos indicam que, em 1180, ou seja,
no século XII, a poetisa Marie de France traduziu o Romulus anglo-latim, sob o título de Isopet, com cento e trinta e sete
fábulas da língua anglo-saxônica, atribuídas hipoteticamente ao rei
Alberto, vertida em uma coletânea latina em que um certo Romulus imperator pretendia traduzir em latim, por Tibério, seu
filho, as fábulas gregas de Esopo, que não é senão uma coleção de fábulas de
Fedro postas em prosa na época da extrema decadência. Ou seja, da coleção
anglo-saxônica derivou a tradução latina.
Assim, no século XII, foram publicados
em versos os cinco primeiros livros de Romulus, publicados por Esopus.
No
século XIII, apareceu em verso o Isopet
de Lião, e no XIV, o Isopet I, de
Paris. De outra versão latina surgiram o
Isopet de Chartres e o Isopet II, de Paris. Todos esses textos mantinham consigo o
sentido moralizante, sendo tributários dos modelos latinos.
Nos séculos XV e XVI, surgem vários
escritores de fábulas, como Giles Corrozet, Guillaume Haudent, Guillaume
Gerérold, Pierre Boisset, tanto na França como em outros cantos da Europa, com
destaque para La Fontaine.
No século XII, o Roman de Renart (Romance de
Renart), também conhecido como “epopéia animal”, consistia de uma coletânea
de vinte e sete partes - composta por
poemas – uma “ilíada bárbara”, cujos personagens são animais. Diferente das fábulas de Esopo, estes animais
possuem uma máscara pessoal, tanto que a golpelha se chamava Renart – nome que
denominou a raposa. A ação se move entre este e ainda o rei leão Noble, o lobo
Isengrin, o galo Chanteclair, o gato Tibet, o urso Brun, o burro Beaudoin,
entre outras personagens que transitam pelo romance. Nas disputas, vence sempre a astúcia da
raposa contra a ferocidade ingênua do lobo. (COUTINHO, 1971, p. 185-6)
À medida que iam sendo compiladas
(reescritas), perdiam o tom folclórico e ganhavam estilo literário, porém as
personagens permaneciam as mesmas. Outros livros no estilo do Roman de Renart
são publicados pela mesma época, enquanto na Espanha, o Libro de les Besties, de Remon Lull recorda o renart francês.
Portugal
traduz as Fábulas de Esopo no século XIV, cujo título é Livro de Esopo ou Esopete,
de autor anônimo, um manuscrito encontrado por Leite de Vasconcelos na
Biblioteca Palatina de Viena, publicado pelo pesquisador em 1906. Na Espanha,
havia o Fabulário, de Sebastião Ney,
um conjunto de fábulas reunidas.
[1]
(publicado em O Jornal, em 5 de junho de 1957. In: COUTINHO,
A. “Literatura Infantil”. In: Idem. A literatura no Brasil. Vol. VI. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editorial Sul Americana, 1971, p. 184)
[2]
( A.José C.Coelho com Adaptação: Joseph
Shafan. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000378.pdf)
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